A incerteza no presente é grande, mas no futuro é ainda maior. Como sairemos dessa pandemia? Não sabemos exatamente, mas teremos que traçar alguns novos caminhos.
Durante a pandemia, temos visto alguns acontecimentos importantes em relação ao meio ambiente. Mas como vai ser daqui pra frente? Tudo voltará ao antigo “normal”? Ou esta situação acenderá um alerta à população de que podemos, sim, utilizar das soluções tecnológicas para reduzir nosso impacto ambiental? E nesse sentido os engenheiros terão que mostrar de fato o poder da engenharia. É a hora de mostrar a que viemos. Engenharia é a arte de resolver problemas. As engenharias que trabalham com o meio ambiente, especialmente a Engenharia Ambiental, terão um grande desafio, mas também uma grande oportunidade.
É imperativo que a infraestrutura seja o grande motor da retomada do crescimento econômico e do aumento de vagas de emprego no país. E, de modo especial, o saneamento básico (abastecimento de água, esgoto sanitário, gestão de resíduos sólidos e drenagem urbana). Nosso papel será de apoiar e propor novas soluções baseadas em projetos de qualidade técnica e, mais do que nunca, viáveis economicamente aos administradores públicos; Não podemos ficar assistindo tudo das nossas cadeiras. Por que não aproveitar um tempo vago e pautar dentro da sua Associação de engenheiros os projetos que existem para a cidade em termos de saneamento básico?
Outro ponto muito relevante no pós-pandemia é: a regra geral será que toda empresa irá repensar seus gastos, tentando diminuir todos os custos desnecessários e ser mais efetivo, ou seja, maximizar os resultados com menor ou melhor aplicação de recursos financeiros. Essa é outra oportunidade para a engenharia: mostrar que a área ambiental pode trazer ganhos em eficiência. Essa é a hora de trabalharmos para sermos ambientalmente comprometidos, mas também para ajudarmos as empresas a serem mais competitivas financeiramente.
Órgãos ambientais terão que se modernizar, tanto em termos de metodologias para fiscalização e monitoramento ambientais, quanto para avaliação de estudos e, principalmente, geração de dados e informações, que são uma das principais carências da área tecnológica no país. A engenharia ajudará a inserir mais tecnologia nos processos, inteligência artificial, cruzamento de informações, mais processos remotos. E para isso a parceria com o setor de pesquisa das universidades será essencial.
As próprias audiências públicas dos Estudos de Impacto Ambiental terão que evoluir. Por um tempo não ser possível reunir uma grande quantidade de pessoas. Todos os processos com controle social passarão por isso, como os planos diretores, de gestão de resíduos sólidos e de saneamento básico. Para garantir a efetiva participação população, ferramentas de interação remota terão que ser usadas, mesmo com todos os desafios que ainda temos em relação ao acesso a internet por uma camada da população.
Estamos percebendo que o trabalho remoto é viável para diversos setores, e isso reduz deslocamentos, emissões atmosféricas, sobrecarga no sistema de transporte, dentre outros impactos. Reuniões presenciais podem se resumir a uma videoconferência, e até mesmo documentos impressos podem ser substituídos por assinaturas digitais. Ou seja, menos resíduos, menos deslocamentos, menos emissão de poluentes atmosféricos, menos ruídos, menor demanda de serviços públicos, e maior produtividade.
Uma nova economia já começa a ser pensada e concebida. Países como Alemanha e Holanda já anunciam mudanças estruturais. No caso do Brasil os desafios são mais complexos, pois temos ainda muitas demandas por incremento na infraestrutura do país. Importantes mudanças que estarão em curso vão ocorrer com objetivos de conservação da biodiversidade e enfrentamento das mudanças climáticas. Isso acelera os desafios de desenvolvimento de projetos nas áreas de restauração de ecossistemas e energias mais limpas, estabelecendo um mercado crescente para os Engenheiros Ambientais.
Por fim, precisaremos de governantes de fato engajados com a proteção ambiental. De forma pragmática. Vemos que a proteção dos ecossistemas nos ajudará a diminuir a geração de novas pandemias, a termos um clima mais estável. Nos ajudará a ter uma agricultura mais produtiva e ainda mais bem aceita no mercado internacional, assim como produtos industrializados. Não pode haver espaço para disputa ideológica. Temos que entender que é possível se desenvolver economicamente de forma sustentável. E esse é o papel da Engenharia Ambiental. Hora de buscarmos soluções inovadoras e retomarmos o crescimento econômico, mas de forma ambientalmente sustentável.
Helder Rafael Nocko
Engenheiro Ambiental, Diretor da EnvEx Engenharia e ex-presidente da APEAM – Associação Paranaense se Engenheiros Ambientais.
Luiz Guilherme Grein Vieira
Engenheiro Ambiental, Diretor da Ideal Ambiental e Presidente da APEAM – Associação Paranaense se Engenheiros Ambientais.
Eduardo Felga Gobbi
Engenheiro Civil, Acadêmico da Academia Paranaense de Engenharia, Professor e Coord. do curso de Eng. Amb.
Fonte: Texto original publicado no site do CREA-PR.